
É de se imaginar que algo esteja errado quando você
compra um livro e de repente todo mundo começa a questionar seu bom gosto ou
até sua sanidade mental... Passada a euforia da compra, você olha a obra em
suas mãos e tenta justificar dizendo que “a capa é meio esquisita, mas a
estória parece ser boa...” ou “É o primeiro de uma série super famosa!!!” ou
ainda “Todos os blogs que eu visitei, falaram super bem!!!!!!”... Você até enfrenta os olhares desconfiados e
impõe a sua determinação, certa de que todos estão sendo preconceituosos. Mas,
depois da experiência de conhecer Julian da Macedônia, me dei conta de que
preciso rever meus conceitos urgentemente... Por que das duas, uma: ou eu estou
me tornando uma leitora chata e intransigente ou então não estou sabendo
filtrar opiniões. Juro, tô me sentindo uma ET... Culpada, até, pois não conheci
ninguém que não tivesse dado muitas estrelas na avaliação de O Amante da
Fantasia (Saga Dark Hunter) e seguindo na contramão dessas análises literárias,
preciso ser sincera e dizer que eu não caí de amores pela estória do guerreiro
espartano que foi aprisionado como escravo sexual em um livro...
Ok. A descrição que acabei de fazer da estória é um
pouco constrangedora, mas o livro é exatamente sobre isso! Julian da Macedônia
era um poderoso general dotado de força e coragem inigualáveis. Temido e
respeitado, não conheceu um inimigo que não pudesse abater em seus campos de
batalha. Sua inteligência, habilidades e estratégias o elevaram ao patamar de
lenda viva. De fato, Julian era um abençoado pelos deuses. Filho de Afrodite, a
deusa do amor e do general Diocles de Esparta, foi agraciado com inúmeras
dádivas do Olimpo, inclusive uma beleza tão perfeita e vigor tão aflorado que o
tornou um homem cujos encantos nenhuma mulher seria capaz de resistir. Contudo,
Julian não teve o principal em sua vida: o amor. Como filho bastardo de uma
deusa, cresceu em regime espartano sem a presença materna, nas mãos de um pai
violento que o odiava pela sua aparência e pelo efeito que causava nas
mulheres, especialmente em sua madrasta... Sem se resignar ao destino solitário
que o aguardava, Julian ousou cobiçar Penélope e sem perceber se colocou numa
teia de acontecimentos que resultou numa terrível maldição: foi aprisionado em
um livro onde passaria a eternidade servindo como escravo sexual cada vez que fosse
invocado, não sendo nada além de um objeto para ser usado e sem sequer poder “aproveitar”
a situação.
Dois mil anos depois, o livro, ou melhor, Julian foi parar nas mãos de Grace, uma terapeuta sexual, extremamente traumatizada e frustrada
sexualmente por conta de uma experiência dolorosa do passado. Sua melhor amiga
Selena, metida a cartomante e especialista em História Antiga, acaba descobrindo
o conteúdo do livro e se convence de que esse seria o presente perfeito para
tirar amiga da “seca”. Depois de muitas garrafas de vinho, Grace entra na onda
de Selena e topa fazer o papel ridículo de invocar aquele “verdadeiro deus
grego” da capa do livro para ser seu amante por um mês... E qual não foi a
surpresa de Grace quando deu de cara com o cidadão nu em pelo no meio de sua
sala!!! Contrariando todo seu bom senso e seu ceticismo, Grace tem que lidar
com um homem que não pensa em outra coisa a não ser satisfazê-la. E Julian, por
sua vez, encontra algo que nunca viu: uma mulher que não deseja usá-lo.
“Ordeno que se erga” – ela disse, agitando as sobrancelhas.
Selena bufou.
“Não é assim que se faz. Precisa dizer o nome dele três vezes.”
Grace endireitou-se.
“Escravo sexual, escravo sexual, escravo sexual.”
Com as mãos nos quadris, a amiga encarou-a.“Julian
da Macedônia.”“Ah,
me desculpe” – Grace apertou o livro junto ao peito e fechou os olhos. “Venha e
alivie minha virilha dessa dor, grande Julian da Macedônia, Julian da
Macedônia, Julian da Macedônia”.— Depois, fitou Selena. “É difícil dizer isso
depressa três vezes.”
De cara essa combinação de “deus grego” e “escravo sexual”
na mesma sentença já me deixaria de orelha em pé com a estória, uma vez que não
sou fã do tão falado romance de banca. Antes que você possa pensar, quero
deixar claro que não sou nenhuma puritana... muito pelo contrário... Mas é que
não vejo como expressões no estilo “membro intumescido” ou “centro do seu
prazer” possam acrescentar alguma coisa na minha vida literária. Abro uma exceção
aqui para a Irmandade da Adaga Negra que são romances sobrenaturais
extremamente sensuais, e que gosto muito apesar de esse não ser exatamente meu
tipo de leitura. Foi inclusive por causa de IAN que dei uma chance a Amante da
Fantasia que, confesso, do ponto de vista do entretenimento é uma leitura
agradável e divertida. O texto flui super fácil, a tradução é muito boa (pois
tomou cuidado em evitar a linguagem chula), tem alguns trechos bem engraçados e
uma boa pesquisa sobre história e mitologia. Mas os pontos positivos acabam por
aí. O enredo é extremamente superficial e alguns aspectos não convencem. A estória
poderia ser bem melhor se focasse mais em desenvolver seu conteúdo e menos em
descrever exaustivamente os atributos do protagonista. Se torna cansativo o
exagero de descrições das capacidades sexuais de Julian, e do Abdômen de
Julian, e do cabelo de Julian, e de Julian de costas, de frente, deitado, em pé...
Sinceramente eu acho que já sei até a cor do suor de Julian da Macedônia! E se
por um lado o protagonista é perfeito, tinha que rolar o clichê da mocinha que
se acha feia e que não acredita que um cara daqueles poderia dar bola pra
ela...
Pra completar, metade do livro é o tal escravo morto
de lindo querendo “resolver o problema” da moça e ela correndo dele por que não
quer “usá-lo como ela foi usada”... Ahhhhh, por favor! Me desculpem, mas isso é
surreal minha gente. Além de ser irritante, não é crível! Fora o excesso de enrolação
com dúvidas se outro ama ou não ama, se conta ou não conta... enfim, muita
dúvida adolescente pra um livro adulto. Existe sim uma preocupação da autora em
desenvolver o crescimento da relação amorosa dos protagonistas, mas isso acaba
se perdendo no meio de tantas cenas eróticas recorrentes. Quanto ao
desenvolvimento dos personagens, bem, já deu pra notar que Julian tem um
passado de novela mexicana, que acaba fundamentando suas atitudes, justificando
sua personalidade e luta interior na adaptação de escravo sexual a habitante do
século 21. Quanto à Grace eu achei um pouco forçado seu “passado traumático”.
Os outros personagens contam com uma descrição bem básica e desenvolvimento
inexistente.
E se você está se perguntando: cadê os Dark Hunters???
(Afinal esse é o título da série, que
por sinal conta com mais de 20 livros...) Preciso informar que também tive a
mesma dúvida martelando a mente e cheguei a questionar minha memória achando que
deixei algum trecho importante ser ofuscado pela descrição de Julian da Macedônia
dentro de uma calça jeans... Mas não. Embora
a visão de Julian em um jeans colado seja bem agradável, fui pesquisar e
descobri que a autora realmente não menciona os Hunters nesse livro, pois é
como se fosse uma espécie de volume zero da série.
Bom, acho que é isso. Na minha opinião o livro deixa muito
a desejar, mas é um prato cheio pra quem curte esse estilo de literatura, que
foca na sensualidade em 90% das páginas. Como eu disse antes é uma leitura até divertida,
mas sem maiores compromissos.