sábado, 11 de fevereiro de 2012

Resenha: Casados Com Paris - Paula Mclain

Autora: Paula McLain
Título Original: The Paris Wife
Editora: Nova Fronteira
Tradução: Celina Portocarrero
ISBN: 9788520926994
Ano: 2011
Páginas: 336

Sinopse: "Casados com Paris" revela uma face desconhecida do escritor Ernest Hemingway ao debruçar-se sobre sua juventude durante o período em que foi casado com Hadley Richardson. Tendo como cenário a Paris da década de 1920, os chamados Anos Loucos, e narrado sob o ponto de vista da esposa, o livro conta a conturbada história de amor entre ela e o jovem Hemingway.
“Para mim era às vezes doloroso saber que, para aqueles que acompanharam sua vida com interesse, eu era apenas a primeira esposa, a esposa de Paris. Talvez isso fosse vaidade, querer se sobressair numa longa fila de mulheres. Na verdade, não importava o que os outros vissem. Sabíamos o que havíamos tido e o que significara, e, embora tanta coisa nos tivesse acontecido desde então, nada foi como aqueles anos em Paris, depois da guerra. A vida era dolorosamente pura, simples e boa, e eu acredito que Ernest era o melhor de si mesmo. Tive o melhor dele. Tivemos o melhor um do outro.”
Fazia tempo que eu não lia algo que me deixasse tão envolvida, sem fôlego e arrebatada por cada acontecimento narrado em suas páginas! Casados com Paris, apesar de ser um relato ficcional da vida do jovem casal Hemingway, baseado em cartas, livros e documentos é como uma espécie de contraponto à grande obra de Ernest Hemingway, “Paris é uma Festa”. É como se fosse a versão de Hadley de todos os acontecimentos que envolveram tantos artistas na Paris de 1920, época conhecida como “Os anos loucos”.  Não pensem que estamos tratando aqui de uma biografia ou um livro de texto única e exclusivamente voltado para os fatos reais. Estamos falando de um grande romance. Da narração de uma grande história de amor, traição, ambição e sentimentos conturbados ambientados no cotidiano de um dos casais mais célebres do meio literário.
A história começa em Chicago onde Ernest, com 21 anos, sonhando em se tornar escritor e já demonstrando indícios de seu humor volúvel afogando os horrores passados na guerra em litros e litros de álcool e muito Jazz, conhece a recatada e extremamente sincera Hadley, com então 28 anos. Entre cartas e viagens e um romance cheio de promessas e sonhos ingênuos, eles se casam. Ambos vinham de famílias comandadas por mulheres dominadoras e inflexíveis, cujas exigências podavam qualquer espírito criativo e individualidade dos filhos, enquanto enlouqueciam e anulavam os maridos com suas vontades indomáveis. Então foi natural a criação de planos e juras de que jamais seriam assim.
Mas a dura realidade de uma vida a dois, com Ernest enfrentando as dificuldades de sustentar seu apartamento mínimo, com todas as dúvidas e insegurança que trazem um início de carreira e a tentativa de Hadley de ser forte pelos dois, deixando-se de lado para sempre apoiar o marido, acabou impulsionando-os a mudar-se para Paris. Paris que era o lugar certo para se estar, quando se queria ter inspiração para escrever. Era onde estavam todos os escritores de verdade. Onde havia o que fazer a qualquer hora e todos eram interessantes. Mas, o verdadeiro retrato de Paris na época era a vida boêmia, onde  ninguém mais acreditava no casamento e no “felizes para sempre”. Pois com o fim da guerra, a única coisa que se sabia de verdade era que existia o hoje. Então a idéia era viver intensamente e sem limites. Uma filosofia regada a muito álcool, vícios e comportamentos nada convencionais. Nada mais era chocante, era normal! Monogamia então, era coisa do passado... apenas teimosia de poucos resistentes que ainda acreditavam em construir uma vida juntos.
- Espero que tenhamos a sorte de envelhecer juntos. A gente os vê na rua, aqueles casais que estão casados há tanto tempo que você não consegue saber quem é quem. Que tal a idéia?- Eu ia adorar ser como você – respondi. – iria adorar ser você.Eu nunca tinha dito nada mais verdadeiro. Eu teria saído feliz da minha pele naquela noite e entrado na dele,por que eu acreditava que era aquele o significado do amor. Não tínhamos acabado de desfalecer um dentro do outro, até que não houvesse diferença entre nós?A lição mais difícil do meu casamento foi descobrir a falha desse pensamento. Eu não conseguia alcançar todas as partes de Ernest, e ele não queria que eu o fizesse. Ele precisava de mim para se sentir seguro e apoiado, sim, da mesma forma que eu precisava dele. Mas ele também gostava de poder desaparecer dentro do seu trabalho, longe de mim. E voltar quando quisesse.” 



Logo o casal começou a chamar atenção por sua “união perfeita”. E Ernest se dedicou de corpo e alma à escrita, sua sede de aprender e sua fome de conhecimento lhe trouxe um círculo de amigos talentosos e influentes, como Ezra Pound, Gertrude Stein, o Casal Fitzgerald, Sherwood Anderson e todos os expatriados que fizeram de Paris o lar de seu sucesso. Chanel começava a montar sua marca e a silhueta e atitudes femininas nunca mais seriam as mesmas. Enquanto Ernest se apaixonava por tudo aquilo, Hadley ainda lutava pra se encaixar num universo onde todos eram artistas e queriam estar na companhia de artistas... Mas ela não tinha talento algum... Era só a esposa adorável. Pertencia ao universo das esposas, e mesmo se sentindo realizada com esse papel, enfrentava uma batalha interna contra a insegurança e o ciúme. Vendo tantas mulheres interessantes, inteligentes, bem vestidas e brilhantemente armadas de sedução sempre circulando, flertando e encorajando os novos talentos com suas influências, dando-lhes “inspiração”.
As viagens, os relacionamentos, os erros e seus danos irreparáveis, os detalhes da vida de Hadley e Ernest são tão bem retratados na narrativa de Paula Mclain, que você praticamente se sente inserido na trama. Com vontade de aconselhar os personagens, lhe abrir os olhos... É tão cru e real ver Hemingway vivendo dentro de sua própria mente o tempo todo, renegando o desgaste que a vida doméstica apertada lhe trazia e coletando material para se tornar o que é hoje. Vê-lo se afastar de todos os amigos por orgulho, ambição e pelo desejo de não dever nada a ninguém ao alcançar seu espaço no mundo literário. Vê-lo destruir aos poucos a mulher que ele amava e que o amava acima de tudo. Ver Hadley, que prometeu nunca competir ou tentar ficar a frente do trabalho de Ernest, que sentiu dor ao vê-lo se tornar o protótipo do artista que antes ele criticava, sentir a esposa que em alguns momentos desejou que ele fosse tão triste quanto ela e em outros se dedicou a lutar arduamente por uma causa perdida.
“Esta não é uma história de detetive – nem de longe. Não quero dizer, cuidado com a garota bonita que vai chegar e estragar tudo, mas ela vai chegar de qualquer maneira, cheia de determinação, num encantador casaco de pele de esquilo e belos sapatos, o cabelo macio e castanho encaracolados tão perto de sua cabeça bem resolvida que ela parecerá uma linda lontra na minha cozinha. O sorriso fácil. A conversa rápida e inteligente... enquanto no quarto, desarrumado, de barba por fazer e jogado na cama como um rei déspota, Ernest lerá seu livro e não prestará atenção nela. Não no começo.”



Espero que minha paixão pelo livro, seus personagens reais (em especial o próprio Hemingway, de quem sou fã confessa) e esta Paris tão peculiar de 1920,  não os faça acreditar que este é um livro água com açúcar ou um dramalhão mexicano. Muito pelo contrário, é um livro sensível, mas pontuado por uma sinceridade dilacerante. Às vezes cruel, às vez chocante e muitas vezes avassalador. Paula Mclain ganhou um espaço especial na minha estante. Diferente de muitos romances descartáveis que tenho visto ultimamente, só posso dizer que esta é uma obra para ler e reler.



Segundo Hadley o Jardim de Luxemburgo era o local em Paris para onde Ernest sempre escapava quando queria pensar, mergulhar nas palavras e buscar inspiração... Posso entender  o por quê!  O lugar é incrível e essa aí sou euzinha seguindo os passos de Hemingway e superbuscando inspiração também... kkkkk

2 comentários:

Equipe TriBooks disse...

Quando vi este livro na livraria fiquei com vontade de ler, mas a sua é a primeira resenha que li sobre ele, e agora quero ler ainda mais =) Adorei suas fotos, lugar maravilhoso mesmo!

Beijos,

Paula

http://tribooks.blogspot.com

@Tri_books

Gláucia Sousa disse...

Gostei muito de sua resenha, Paulinha.
Como estou entrando de férias na próxima quarta, vou comprá-lo para lê-lo durante as férias.
Acho que vou gostar...
Ernest, além de um escritor singular, é um homem que desperta grande interesse sobre sua personalidade marcante.
Diretamente da Capital do Carnaval e de quem troca a festa de Momo fácil, fácil por um bom livro.
Beijos,

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